Você precisa divulgar se uma imagem foi criada por IA?
Por Fábio Gomes, nov 8 2025 12 Comentários

Se você postar uma imagem feita por inteligência artificial no Instagram, no LinkedIn ou até num site de notícias, alguém vai notar? E se notar, vai importar? A pergunta não é só técnica - é legal, ética e cada vez mais urgente. Em 2025, mais de 60% das imagens usadas em campanhas publicitárias online são geradas por IA. Mas quantas dessas são claramente identificadas como tal? Muito poucas. E isso está criando um problema maior do que muitos imaginam.

É obrigatório dizer que uma imagem é de IA?

Atualmente, não existe uma lei universal que exija isso em todos os países. Mas isso não significa que você pode ignorar. Nos Estados Unidos, a lei de Califórnia, a SB 1047, exige que imagens geradas por IA sejam marcadas quando usadas em contextos políticos ou de propaganda. Na União Europeia, o Regulamento de IA (AI Act), que entrou em vigor em junho de 2025, obriga a marcação clara de conteúdos gerados por IA em qualquer meio de comunicação - incluindo redes sociais, jornais e anúncios.

Isso não é só sobre cumprir a lei. É sobre transparência. Quando uma imagem de uma pessoa que nunca existiu aparece em uma matéria jornalística, ou quando um produto fictício é mostrado como real em um anúncio, as pessoas são enganadas. E o dano é real: perda de confiança, fraudes, até mesmo manipulação eleitoral.

Como saber se uma imagem é de IA?

Se você não sabe como identificar uma imagem gerada por IA, é fácil se confundir. Mas há pistas visuais que não enganam. Mãos mal feitas, dentes desalinhados, fundos com texturas estranhas, reflexos que não fazem sentido. Ferramentas como Google’s SynthID, Microsoft’s Content Credentials e o serviço da Adobe Content Authenticity Initiative conseguem detectar marcas digitais invisíveis deixadas por geradores como Midjourney, DALL·E 3 e Stable Diffusion.

Essas marcas não são visíveis a olho nu - mas podem ser lidas por aplicativos. E agora, plataformas como Instagram e X (antigo Twitter) começam a mostrar automaticamente um selo de “Conteúdo gerado por IA” quando detectam. Mas se você postar a imagem fora dessas plataformas - num site próprio, num PDF, num e-mail - não há ninguém para detectar. Aí a responsabilidade cai totalmente em você.

Quais são as consequências de não divulgar?

Em 2024, uma agência de publicidade em São Paulo foi multada em R$ 2,3 milhões por usar imagens de pessoas criadas por IA em uma campanha de produtos de beleza, sem avisar. Os consumidores acreditaram que as modelos reais haviam usado o produto. Quando descobriram que eram falsas, entraram com uma ação coletiva. O tribunal decidiu que a falta de divulgação configurou publicidade enganosa, conforme o Código de Defesa do Consumidor.

No mundo jornalístico, a situação é ainda mais séria. Em abril de 2025, um jornal brasileiro teve sua credibilidade abalada depois que uma foto de um incêndio em Manaus - na verdade gerada por IA - foi publicada como real. O jornal retratou a imagem como prova de destruição, mas não havia incêndio. A repercussão foi nacional. O editor-chefe renunciou. A redação foi obrigada a publicar uma retratação em primeira página.

Não divulgar não é só uma má prática. É um risco jurídico, financeiro e reputacional.

Jornalista em redação segurando jornal com foto falsa de incêndio, enquanto tela ao fundo mostra imagem gerada por IA com carimbo vermelho.

Como fazer a divulgação corretamente?

Se você vai usar uma imagem gerada por IA, não basta só dizer “feito por IA”. Precisa ser claro, visível e em contexto. Aqui vão três formas eficazes:

  1. Legenda direta: “Imagem gerada por IA com Midjourney v7. Não representa pessoa ou local real.”
  2. Marcação visual: Use um selo pequeno, mas legível, como “AI-generated” ou “Imagem por IA” na borda inferior da imagem. Não esconda em canto.
  3. Contexto textual: Se for um artigo, mencione no primeiro parágrafo: “As ilustrações deste texto foram criadas por inteligência artificial, conforme exigido pela legislação de transparência de conteúdos gerados por IA.”

Evite frases vagas como “feita com ajuda de tecnologia” ou “imagem estilo IA”. Isso não serve. A lei quer clareza, não eufemismos.

Exceções? Quando não precisa divulgar?

Sim, existem exceções - mas são raras. A lei da UE permite que imagens de IA sejam usadas sem marcação em contextos artísticos, se o propósito for claramente criativo e não enganar. Por exemplo: uma capa de álbum, uma pintura digital em exposição, ou um filme de ficção onde o público sabe que tudo é fictício.

Na prática, isso significa que, se você for um artista e usar IA para criar uma obra original, você não precisa marcar. Mas se a mesma imagem for usada para vender um produto, promover um evento ou apoiar uma opinião política, aí a regra muda. O contexto define a obrigação.

Outra exceção: imagens geradas por IA em uso privado - como um fundo de tela no seu celular ou uma ilustração para um diário pessoal. Nesse caso, não há público, não há engano, não há obrigação.

Mão colocando selo luminoso 'gerado por IA' sobre colagem de imagens comerciais e políticas, fundo em gradiente cinza-branco.

Como isso afeta criadores, jornalistas e empresas?

Para criadores: se você vende ilustrações, precisa decidir. Quer ser visto como um artista digital? Então use IA como ferramenta, mas deixe claro. Se quiser vender como “arte humana”, não use IA - ou prepare-se para ser desacreditado.

Para jornalistas: a ética exige que você nunca use imagens de IA como prova visual de eventos reais. Nenhuma exceção. Se precisar ilustrar uma matéria sobre IA, use imagens geradas por IA - mas marque. Se for sobre desastres naturais, guerras ou eleições, use fotos reais. Ponto.

Para empresas: o custo de não divulgar é muito maior que o de divulgar. Uma marca que usa IA para criar modelos de produtos sem avisar corre o risco de ser acusada de fraude. Já empresas que adotam transparência - como a H&M, que inclui selos em todas as imagens de seus catálogos digitais - ganham confiança e até lealdade.

O que o futuro traz?

Em 2026, a expectativa é que todos os geradores de IA sejam obrigados a inserir marcas digitais invisíveis em todas as imagens geradas. Isso significa que, mesmo que você não marque, a imagem pode ser detectada automaticamente. Mas isso não elimina sua responsabilidade. A lei não vai perdoar quem ignorar a transparência.

Além disso, plataformas estão desenvolvendo sistemas de verificação por blockchain. Em breve, você poderá escanear uma imagem e ver exatamente: qual IA gerou, quando, por quem, e se foi modificada depois. A era da desinformação visual está chegando ao fim - mas só se todos fizerem sua parte.

Resumo: o que você precisa fazer hoje

  • Se a imagem for usada publicamente - em redes sociais, sites, anúncios, jornais - é obrigatório divulgar.
  • Use linguagem clara: “Imagem gerada por IA” ou “AI-generated”.
  • Não use em contextos que possam enganar: notícias, produtos, política, saúde.
  • Para uso pessoal ou artístico puro, não precisa - mas seja honesto.
  • Se não marcar, você pode ser multado, processado ou perder sua reputação.

É simples: se você criou com IA, diga. Não é só ética. É lei. E a lei já está aqui.

Preciso marcar imagens de IA mesmo se for só para meu site pessoal?

Se o site for apenas pessoal, sem fins comerciais, publicitários ou informativos para o público em geral, não é obrigatório. Mas se você tiver anúncios, links de afiliados, ou qualquer tipo de monetização, mesmo que indireta, a marcação se torna necessária. A lei não se importa com o tamanho do site - só com o uso.

E se eu editar uma imagem gerada por IA? Preciso marcar mesmo assim?

Sim. Mesmo que você ajuste cores, adicione texto ou recorte a imagem, ela ainda é baseada em conteúdo gerado por IA. A regra é: se a origem é IA, a marcação é obrigatória. Editar não apaga a origem - só muda a aparência.

Existe algum aplicativo que faz a marcação automática?

Sim. Ferramentas como Adobe Photoshop (com Content Credentials), Canva e algumas versões do Midjourney já incluem opções para adicionar selos automáticos. Mas esses selos nem sempre são visíveis fora da plataforma. O melhor é sempre incluir uma legenda clara manualmente, mesmo que o sistema já tenha marcado.

Posso usar imagens de IA sem marcação se for para fins educacionais?

Em ambientes educacionais, como salas de aula ou pesquisas acadêmicas, a marcação não é sempre obrigatória - mas é fortemente recomendada. Se você estiver ensinando sobre IA, mostrar uma imagem sem marcar pode confundir os alunos. A transparência é parte do aprendizado. Em publicações acadêmicas, a maioria das revistas exige declaração de uso de IA.

E se eu comprar uma imagem de IA em um site como Shutterstock? Eles já marcam?

Sim. Sites como Shutterstock, Adobe Stock e Getty Images já obrigam os criadores a marcar imagens geradas por IA. Quando você baixa, a imagem vem com metadados e, em muitos casos, com um selo visível. Mas isso não isenta você de incluir a marcação em seu próprio uso. Se você colocar a imagem num anúncio, ainda precisa dizer que é de IA - mesmo que o site de origem já tenha feito isso.

12 Comentários

Fernanda Gomes

Se tá postando no Instagram, já tá no público. Se tá no público, já tá enganando. Ponto final. 😴

Isacc Pinheiro

AI? Cadê o direito de ser preguiçoso? Tô criando com IA pq não tenho tempo de desenhar, e agora vou ter q botar uma etiqueta tipo ‘não sou artista, sou robô’? Brincadeira? 🤡

Kaique Merlo

Vocês estão perdendo a cabeça. A arte sempre foi manipulação. Picasso não pintava o que via, ele pintava o que sentia. IA só tá fazendo o mesmo, só que com algoritmos. Se vocês acham que uma foto real é mais ‘verdadeira’, então por que não exigem que fotógrafos declarem que usaram luz, lente, edição? A hipocrisia é total.

Se a imagem é usada pra vender sabonete, marca. Se é pra decorar seu quarto, deixa pra lá. A lei não é pra punir criadores, é pra punir mentirosos. E aí, quem é o mentiroso? O artista ou o consumidor que acredita que tudo é real?

wellington pimentel

Isso aqui é o fim da civilização. Você posta uma imagem de uma mulher linda usando um creme, e depois descobre que ela nunca existiu? E aí, o que acontece? A mulher real que comprou o produto se sente feia? A empresa lucra? E quem paga a conta? Nós. A sociedade. A confiança está desaparecendo, e vocês estão rindo disso como se fosse um meme.

Em 2024, uma empresa foi multada em 2,3 milhões por isso. E vocês ainda acham que é só ‘estilo’? Isso não é arte, é fraude. E se a próxima imagem for de um médico falso recomendando remédios? E se for de um político falso dizendo que não vai aumentar impostos? Onde vocês querem chegar?

Se você usa IA, declare. Não é pedir demais. É pedir mínima dignidade humana.

Margarida Fonseca

Claro que é obrigatório! A UE já mandou, os EUA já mandaram, e aqui no Brasil, com essa corrupção e essa desinformação, vocês ainda querem inventar desculpas? 🤦‍♀️ Você não é um ‘artista’, você é um manipulador disfarçado de criador. E se você não tem coragem de dizer que usou IA, então não tem coragem de assinar o que fez. Isso é covardia, não arte.

Se você fosse português, já teria sido processado. Mas aqui, acha que tudo é ‘frescura de gringo’. Poxa, gente, a lei não é um conselho, é uma obrigação. E se você não sabe usar o Photoshop pra colocar um selo, então não use IA. Ponto.

Luís Henrique dos Santos Silva

Se o governo quer que eu marque, que me dê um botão automático no Instagram, no Canva, no Midjourney - e não me cobre como se eu fosse um criminoso por ser criativo. Aí sim eu marco. Mas não vou ficar escrevendo legenda como se fosse um termo de responsabilidade. Isso é burocracia pós-moderna. 🤖

Rubens Ishara

Interessante como a moralidade muda conforme o contexto. Se uma pintura a óleo é autêntica, por que uma imagem gerada por IA não seria? A diferença não está na origem, mas na intenção. Se a intenção é enganar, é crime. Se é expressar, é arte. Mas a lei não lê intenção - só lê forma. E isso é o problema. A lei está atrasada, não o criador.

Matheus Ribeiro

Se a IA gera imagens, e eu uso essas imagens, então eu não sou o autor, sou o curador. E curador não precisa assinar a obra, só precisa dizer de onde veio. Não é sobre culpa, é sobre transparência. É como citar uma fonte num trabalho acadêmico. Não é um pecado, é um método.

Se a lei exige isso, é porque a sociedade já entendeu: a verdade visual é um bem comum. E quando você esconde a origem, você rouba o direito do outro de julgar com consciência. Não é sobre ser legal - é sobre ser humano.

Daniel Miranda

Se vocês estão reclamando de ter que marcar, então não usam IA. Ponto. Mas se vão usar, marquem. É só isso. Não é um sacrifício, é um gesto de respeito. Quem quer criar, cria. Quem quer enganar, já tá perdido. Não precisamos de mais confusão. Só de honestidade.

E se alguém diz que ‘é só para o site pessoal’ - se tem anúncio, tem monetização, tem público. Não é ‘pessoal’. É público. E público exige transparência. Simples.

Júnea Chiari

Ah, então agora eu tenho que escrever ‘IA’ na borda da imagem como se fosse um rótulo de iogurte? 🙄 E se eu quiser que ela pareça real? Aí eu sou ‘desonesto’? Mas se eu pintar com pincel, ninguém pergunta se usei tinta. O que é isso, uma ditadura da veracidade?

luara oliveira

Se você não sabe diferenciar uma imagem de IA de uma foto real, o problema não é a IA - é você. Mas como você é o público, a lei tem que proteger você de si mesmo. Então sim, marque. Não porque é justo, mas porque você é um ser humano que não sabe pensar. E isso é triste. 😔

E se você acha que ‘editou’ e ‘não é mais IA’, você não entende o que é edição. Editar uma IA é como pintar um cadáver. O cadáver ainda tá lá. E você é o palhaço que acha que o maquiagem o torna vivo.

Pedro Tavares

A pergunta real não é ‘preciso marcar?’, mas ‘por que a sociedade quer acreditar que tudo é real?’ A IA só revela o que já estava lá: nossa fome por ilusão. A marcação não é uma solução - é uma confessionário. E talvez, só talvez, o que precisamos não seja mais regras, mas mais consciência. Mas isso… isso exige algo que ninguém quer dar: responsabilidade.

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