Quais são os 3 principais perigos da inteligência artificial?
Por Bianca Moreira, nov 17 2025 0 Comentários

Se você já usou um gerador de texto ou imagem com IA, já viu o quão rápido ela pode parecer inteligente. Mas por trás dessas respostas perfeitas e imagens impressionantes, escondem-se riscos reais - e muitos já estão acontecendo. A inteligência artificial não é um futuro distante. Ela está aqui, moldando o que você lê, vê e até acredita. E nem todos esses efeitos são bons.

Viés algorítmico: a IA replica e amplifica preconceitos

A IA não nasce com opiniões. Ela aprende com os dados que recebe. E esses dados? São feitos por humanos - e humanos têm preconceitos. Um estudo de 2023 da Universidade de Stanford mostrou que modelos de linguagem usados em recrutamento recomendavam candidatos homens para cargos técnicos em 35% mais casos do que candidatas mulheres, mesmo com currículos idênticos. Isso não é erro. É reprodução.

Quando uma IA é treinada com histórias de contratação passadas, ela aprende que engenheiros são homens, enfermeiras são mulheres, juízes são brancos. E então, ela repete. Sem perceber. Sem questionar. Sem culpa - mas com consequências reais. Pessoas são rejeitadas, empréstimos são negados, e diagnósticos médicos são errados - tudo por causa de padrões que a IA copiou, sem entender o dano que causa.

Deepfakes e desinformação: quando o que você vê não é real

Em abril de 2024, um vídeo circulou no WhatsApp no Rio Grande do Sul mostrando o prefeito de Porto Alegre anunciando um aumento de 40% no IPTU. Milhares de pessoas compartilharam. Muitos acreditaram. O vídeo era falso. Feito por IA. Em menos de 10 minutos, uma voz, um rosto, um discurso - tudo gerado por um modelo de linguagem e uma ferramenta de síntese de voz.

Esses deepfakes não são mais coisa de filmes. Eles estão em campanhas eleitorais, em fraudes financeiras, em chantagens. Um casal em São Paulo perdeu R$ 120 mil depois de acreditar que o filho deles estava em um acidente - e o áudio que ouviram era de uma IA imitando a voz dele. A IA não mente. Ela apenas cria o que ninguém pediu para ser real. E isso quebra a confiança em tudo: nas fotos, nos vídeos, nas mensagens de quem amamos.

Família assistindo a um deepfake na TV enquanto celular mostra a verdade contrária.

Automação descontrolada: empregos que desaparecem sem aviso

Em 2025, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas apontou que 23% dos profissionais de atendimento ao cliente no Brasil já foram substituídos por chatbots de IA. Não por falha. Por eficiência. Eles respondem mais rápido, não dormem, não pedem aumento. Mas o que acontece com as pessoas que perdem esses empregos?

Essa não é uma transição suave. Não é como trocar um typewriter por um computador. É como tirar o chão de quem depende de um salário fixo para pagar contas. Um atendente de telemarketing com 45 anos, sem formação técnica, não consegue se requalificar em seis meses. E as empresas não estão criando novos cargos para compensar. Elas estão cortando. E a IA não está criando empregos em igual escala - só trocando um tipo de trabalho por outro, muitas vezes mais precário.

Em setembro, um banco em Curitiba demitiu 800 funcionários e contratou um único sistema de IA para gerenciar análise de crédito. O sistema funciona bem. Mas quem vai pagar o aluguel dessas 800 pessoas? Quem vai comprar nos mercados locais? A economia não é só números. É pessoas.

Dependência cega: quando você deixa a IA pensar por você

Quantas vezes você já pediu para a IA escrever um e-mail, um trabalho da faculdade, um texto para o Instagram? E quantas vezes você nem verificou se o que ela gerou faz sentido? A IA não entende contexto. Ela não tem consciência. Ela apenas combina palavras com base em padrões estatísticos.

Um professor da UFRGS descobriu que 68% dos alunos que usaram IA para redações não conseguiram defender o que escreveram em uma simples conversa oral. Eles não sabiam o que haviam copiado. A IA fez o trabalho. Mas o aprendizado? Desapareceu.

Quando você deixa a IA decidir o que pensar, o que escrever, o que acreditar - você está perdendo sua capacidade de julgamento. E isso é mais perigoso do que qualquer erro técnico. Porque sem crítica, sem dúvida, sem reflexão, você vira um espectador da própria vida.

Pessoa com corpo de dados digitais, tentando alcançar objetos humanos como livro e caneta.

Os riscos não são teóricos - são cotidianos

Esses três perigos não estão em um laboratório. Eles estão no seu celular, no seu e-mail, na sua casa. A IA não é um monstro. Ela é uma ferramenta. Mas como qualquer ferramenta, ela pode ser usada para construir ou destruir. E o problema não é a tecnologia. É o que fazemos - ou deixamos de fazer - com ela.

Se você usa IA para facilitar, ótimo. Mas se você a usa para evitar pensar, para fugir da responsabilidade, para acreditar em mentiras que parecem reais - então você está correndo um risco maior do que imagina.

A IA pode ser confiável para tomar decisões importantes?

Não, não deve. A IA não tem ética, nem consciência, nem empatia. Ela não entende consequências humanas. Mesmo os melhores modelos podem gerar respostas plausíveis, mas totalmente erradas - e você não vai saber a diferença se não tiver conhecimento para verificar. Para decisões sobre saúde, justiça, emprego ou finanças, sempre exija uma revisão humana. A IA pode ajudar, mas nunca substituir o julgamento humano.

Como saber se um vídeo ou áudio é gerado por IA?

Não existe um método 100% confiável, mas há sinais. Olhe por detalhes estranhos: movimentos faciais descoordenados, som de voz com eco artificial, pausas entre frases que parecem mecânicas. Use ferramentas como Deepware Scanner ou Sensity, que analisam arquivos em busca de padrões de IA. Mas o mais importante: desconfie sempre. Se algo parece muito perfeito, muito emocional ou muito urgente - verifique com outra fonte. Nunca acredite só porque parece real.

Se eu usar IA para trabalhar, vou perder meu emprego?

Depende do que você faz. Tarefas repetitivas, como digitação, respostas automáticas, análise de dados simples, já estão sendo automatizadas. Mas profissionais que combinam IA com crítica, criatividade e empatia - como professores, terapeutas, jornalistas investigativos, gestores - estão em posição de se fortalecer. O futuro não é contra a IA. É contra quem a usa sem pensar. Aprenda a usá-la como assistente, não como substituto.

Existe alguma lei que protege as pessoas dos abusos da IA?

O Brasil aprovou em 2024 a Lei Geral da Inteligência Artificial, que exige transparência em sistemas que afetam direitos fundamentais - como contratação, crédito e justiça. Empresas que usam IA para tomar decisões devem explicar como chegaram a elas. Mas a lei ainda é nova. A fiscalização é fraca. E muitos sistemas são feitos fora do país, sem regulamentação. A proteção legal existe, mas você ainda precisa se proteger por conta própria.

Como posso usar IA sem me tornar dependente dela?

Faça isso: sempre revise o que ela gera. Não aceite como definitivo. Use-a para esboçar, não para finalizar. Pergunte a si mesmo: "Se eu não tivesse essa ferramenta, como eu faria?". Treine sua mente. Leia mais. Escreva sem ajuda. Discuta ideias com outras pessoas. A IA é um espelho - ela mostra o que você coloca nela. Se você não pensa, ela não pensa por você. Mas se você não faz nada, ela vai fazer tudo - e você vai esquecer como pensar sozinho.

O que fazer agora?

Não é preciso parar de usar IA. Mas é preciso parar de usá-la sem olhar para trás. Pergunte sempre: quem ganha com isso? Quem perde? O que estou deixando de aprender? O que estou deixando de sentir?

A tecnologia não é boa nem má. Ela é neutra. Mas os humanos que a criam e usam - não são. E é isso que importa.